Eugénio de Andrade faria 100 anos a 19 de janeiro deste ano de 2023.
Nasceu com o nome de José Fontinhas, em Póvoa da Atalaia, Beira Baixa, a 19 de Janeiro de 1923. Aos dez anos foi viver para Lisboa devido à separação dos pais, frequentando o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro. Era um leitor apaixonado, assíduo nas bibliotecas públicas, até começar a escrever os seus primeiros versos. Aos 15 anos, enviou-os ao poeta e dramaturgo António Botto, e este quis conhecê-lo. É assim que, um ano depois, publica “Narciso”, o primeiro poema, e que surge a necessidade de um nome literário, um nome dado a si mesmo, Eugénio de Andrade.
Passou por Coimbra, em 1943, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço, mas regressou a Lisboa.
Durante 35 anos exerceu o cargo de inspetor administrativo do Ministério da Saúde, tendo sido transferido para o Porto em 1950. Por essa altura, era já um poeta reconhecido.
Da sua obra fazem parte cerca de 40 volumes, 4 dos quais em prosa. Revelou-se em 1948, com As Mãos e os Frutos, a que se seguiria, em 1950, Os Amantes sem Dinheiro. Os seus livros foram traduzidos em muitos países e ao longo da sua vida foi distinguido com inúmeros prémios, entre eles o Prémio Camões, em 2001. Traduziu para português poetas como Garcia Lorca e José Luís Borges.
Numa entrevista de 1978, dada ao jornal Expresso, Eugénio de Andrade declarava: “Parece-me que tudo quanto fiz, tudo quanto vivi foi para escrever um verso ou um poema. Tenho a impressão de que sacrifiquei tudo na minha vida, mesmo as pessoas, pela poesia”. Dizia ele que já estivera anos sem escrever uma linha e que a poesia se relaciona com os momentos de crise, não de plenitude. “Escrevo quando não tenho.”
Foi o poeta e tradutor mais traduzido da língua portuguesa a seguir a Fernando Pessoa.
Morreu no dia 13 de junho de 2005, depois de anos de prolongada doença degenerativa neuromuscular, na cidade do Porto.
O acervo do poeta foi em dezembro de 2022 depositado na Casa dos Livros, que também acolhe os espólios de outros autores, como Vasco Graça Moura, Óscar Lopes, Herberto Helder, Manuel António Pina e Albano Martins.
URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
in “Até amanhã”
Eugénio de Andrade
Bibliografia:
https://www.portoeditora.pt/autor/eugenio-de-andrade/14819
Maria Deolinda Campos
Professora Bibliotecária do Agrupamento de Escolas de Pedrógão Grande